
Na vida deve haver um limite de escolhas erradas a serem feitas. Eu já tinha feito algumas das minhas e não fazia ideia de quantas ainda poderia fazer.
Há coisas que você jurou a si mesmo que jamais iria fazer e de repente a vida te bota em uma situação em que você é obrigada a contrariar seus próprios ideais e rever seus conceitos.
Mas como saber se uma escolha é a errada se você simplesmente perdeu a noção de 'certo' e 'errado'?
Algumas escolhas erradas ironicamente podem te trazer escolhas boas, só que MAIS escolhas erradas podem tirá-las de você.
Entre certo e errado, eu escolhi o caminho mais difícil. Dizem que boas garotas devem sempre escolher o certo, mas quem disse que eu sou uma boa garota?
Eu não compreendia muitas coisas. A primeira delas: Será que foi mesmo só o acaso que me fez andar em círculos? A segunda: O que será que havia me feito vir parar aqui, no meio do nada? A terceira: Se aquele homem era o meu sequestrador, por que agora ele inventou de me ajudar? Quarta: Qual é a conexão nisso tudo?
Ele me levou de volta à pequena casinha, fez um curativo no meu pé, e me ofereceu uma toalha para que eu pudesse tomar um banho e por roupas limpas.
Ele também se lavou e pôs roupas em melhor estado.
Eu estava impressionada como podia caber tanta beleza dentro de uma pessoa só.
Eu tentava de todas as formas ler sua expressão e penetrar no escudo que eram seus olhos cor de piscina.
Tentava encontrar neles respostas para minhas perguntas.
Mas era como o oceano, lindo e profundo.
Algo me dizia que se eu adentrasse muito eu poderia me afogar.
Mas uma pergunta não calava em todo o meu ser.
Eu não resisti e perguntei:
- Foi você que me trouxe pra cá?
Ele estava de costas para mim, fazendo ovos fritos no fogão na pequena cozinha daquele cômodo único. Ele se virou e me olhou meio atordoado pela pergunta. Mesmo assim deu um meio sorriso torto e respondeu:
- Fui eu sim. Por quê?
- Por que eu tenho me perguntado incessantemente como vim parar aqui e não encontro uma resposta.
Ele deu um leve riso e prosseguiu com a explicação, olhando para os ovos que fritavam na frigideira.
- Bem... Eu vi você dormindo em um banco da estação de ônibus e a julgar pela foto que tem na sua carteira de identidade, você me parece jovem não?
Fiquei chocada com a resposta dele. Então ele tinha aberto minha coisas e visto meus documentos falsos. Minhas dúvidas só pioraram.
- Então você quer me dizer que viu uma completa estranha dormindo em um banco, com documentos falsos e simplesmente a coloca dentro de sua casa?
-É basicamente é isso... - Ele disse enquanto colocava os ovos em um prato.
- E por que fez isso? - Eu estava realmente interessada pelas intenções dele e mais ainda em descobrir se ele falava a verdade ou não.
Ele colocava os pratos na mesa, onde eu estava sentada em uma cadeira e ele estava puxando outra para se sentar.
- Bom, pelo meu palpite você deve ser menor de idade, e pela quantidade de dinheiro e cartões de crédito com você, eu acho que alguém deve estar muito preocupado com o seu paradeiro. Você pode me valer uma boa recompensa. - Ele disse rindo com tom de brincadeira.
- Ah, então é assim? E se eu fosse algum tipo de fugitiva ou maníaca? Você estaria correndo risco de vida? - Eu não menti quando fiz essa pergunta.
- Se preocupa não! Eu já sou grandinho! Sei me defender! - Ele falou e logo depois me lançou um olhar e riu irresistivelmente. Aquele sorriso era capaz até de derreter gelo na Antártida.
Conversamos até o entardecer sobre coisas banais tipo manias estranhas e hobbies toscos, eu estava cada vez mais interessada nesse ser tão incomum para mim. O tipo de pessoa que eu não conheceria no lugar onde morava.
No final do dia eu sabia:
Nome: Tom Richard
Idade: 24 anos
Profissão: Carpinteiro
Endereço: Uma cabana em algum lugar que não fazia ideia de onde era
Estado civil: Solteiro
Fumo: não
Bebo: socialmente
Resumo: dois namoros sérios e duas ex-namoradas.
A pergunta que não queria calar: Quem era ele?
Será mesmo que eu poderia confiar nessas informações?
Ele tinha posto um colchão no chão para ele e me deixou dormir na cama. Ele já tinha adormecido há muito tempo, e eu com minha insônia comum me rodava na cama, como sempre. Até que fui acordada de meus devaneios com o meu celular tocando.
Antes de atender, olhei no visor, quem estava me ligando. Como eu imaginava: MÃE.
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