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Oiie!

Não devemos por rótulos nas pessoas. Cada um é mais do que aparenta e menos do que dizem. O preconceito é o grande mal da humanidade.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Fugindo de casa 7


"Se a vida fosse fácil, a gente não nascia chorando". Já dizia minha vó. Hoje em dia eu concordo com ela. Como arranjar forças para seguir em frente quando você não sabe se seus joelhos podem aguentar o peso do seu corpo? Como sobreviver se respirar é tão difícil? Como encontrar o eixo que mantém você presa ao chão? Como continuar caminhando se o chão parece desabar sob seus pés?

Deus! Como eu queria as respostas pra essas perguntas! Você bem que poderia me dar uma forcinha! Ah! Como seria bom se eu pudesse me livrar de tudo! Dos meus problemas, dos meus medos, minhas angústias, minhas dores...
Mas de que adiantaria afinal? Que mérito eu teria me livrando de tudo? Um alívio passageiro, talvez, mas falso. Depois eu teria que conviver com a vergonha da covardia, por não ter tido coragem suficiente para enfrentar meus problemas de frente e com a cabeça erguida.

Problemas? Todo mundo tem!
Soluções? Existem muitas! A diferença é qual você escolhe: O caminho mais fácil ou mais difícil?

É muito egoísmo da minha parte achar que todos os problemas do mundo são meus, que as piores coisas acontecem comigo. Mas eu sou a protagonista da história da minha vida então, me deem o direito de dramatizar um pouco.

Era isso que eu precisava fazer.
Ajeitar as coisas.
Botar cada uma delas em seu lugar.
Para quem sabe então encontrar meu lugar, encontrar minha paz, descobrir o sentido da minha mísera existência.

Quando acordei Tom já tinha feito o café, mas não estava no pequeno cômodo. Levantei, tomei banho e me arrumei. Sentei e tomei meu café da manhã. Então resolvi saí para procurá-lo. Segui por uma trilha em meio às árvores. E então avistei uma clareira. Fui me aproximando devagar e vi Tom conversando com um homem. Mais alto que Tom, parecia um guarda-roupa, tinha a pele queimada de sol e uma barba que precisava ser feita.

Me apavorei. Minha vontade era de sair correndo dali, mas corria o risco de ser vista. O que fazer então? Eu estava sozinha, eu sabia disso. Então fiz a primeira coisa que me ocorreu nesse momento. Chamei por Deus. Mas eu estava com falta com Ele então, achava que Ele não iria me entender.

Peguei o que era meu e saí sem fazer o mínimo de barulho, nesse momento eu estava me perguntando porque tinha sido tão imbecil. Fugido de casa ainda indo me enfiar na casa de um estranho que eu não fazia a mínima ideia de quem era. Apesar de ele ter me tratado bem.

Eu dei a volta na casa e saí andando pé ante pé. Estava quase na trilha para sair do meio da clareira onde ficava aquele casebre. Mas não ouvi os passos de Tom e quando percebi ele estava na minha frente. Tomei um susto.

- Onde você pensa que vai?

Fiquei perplexa por ouvir essa frase. Pensei que só os pais dissessem isso.

- Eu não te vi, não queria incomodar, não gosto de despedidas.

- Então você está indo embora? - Ele perguntou num tom amigável.

- É, respondi. - Tentei esconder meu pavor e esbocei um sorriso.

- É uma pena...

- Eu também acho...

- ...Mas não posso deixar você ir!

- Por quê?

- Porque eu quero lhe mostrar algo.

Ai meu Deus! E agora? O que eu faria? O que será que ele ia falar? O que ele ia fazer? Gelei e não conseguia falar uma palavra nem me mover. Não sei por quanto tempo fiquei assim, mas quando consegui tomar o controle do meu corpo tentei sair dali urgentemente.

- Poxa... eu queria muito mas não vai dar...

- É rápido! Eu juro!

Ele falou e me arrastou pra dentro da cabana. Eu fiquei parada em pé na porta. Se a coisa ficasse feia, pelo menos eu teria uma chance de sair correndo. Mas hoje aqueles olhos brilhantes estavam mais profundos e hipnotizadores do que nunca. Será que eu resistiria?

- Então... o que você quer me mostrar?

- Isso: - Ele falou e abriu a mão me mostrando um colar, parecia indígena ou algo do tipo, mas era muito bonito.

- E o que é isso?

- Um colar! - Ele falou com um sorriso nos lábios.

- Bobo! - Ri também.

- Esse colar... - Ele falava enquanto colocava o colar no meu pescoço - ... é uma tradição na minha família. A gente dá apenas pras mulheres que conseguem conquistar o nosso coração.

- Uau! É muito lindo! - Eu já estava derretida.

- Só não é mais lindo que você! - Ele falou e nós nos beijamos.

E nos beijamos mais e de uma forma tão envolvente que parecíamos ter sido feitos um para o outro, pois a gente se completava de alguma forma.

Me deixei levar por aquelas emoções e um fogo ardeu em meu peito e não pude resistir.

Na manhã seguinte eu acordei e o café já estava pronto, e ele parecia não estar em lugar algum. Tomei o café e encontrei debaixo do meu prato um papel dobrado. Era uma carta. Li.

" Raquel, você é a garota mais linda, inteligente e engraçada que já conheci. Apesar do seu jeito tímido, você é uma pessoa profunda, que busca o que quer e não tem medo de descobrir. Infelizmente seu caminho te trouxe até mim e eu não sou o que se pode dizer de pessoa simples. Minha vida é complicada, por isso não posso ficar com você. Pelo menos não agora e nem aqui. Não me procure nem me espere, é melhor que estejamos separados. Há pessoas perigosas e elas podem nos encontrar. Não se preocupe. Apenas vá para um lugar seguro, eu encontrarei você assim que der. Se cuida, com amor Tom".

Fiquei atônita. Aquelas palavras estavam girando em minha cabeça. Não entendia o significado delas. Só sabia de uma coisa nesse momento: Eu precisava sair dali!

Peguei minha mochila e saí correndo, isso já tinha se tornado um hábito. A floresta estava vazia, o que me preocupou, o silêncio nem sempre é bem vindo. Corri pela trilha estreita que ia dar em uma estrada.

Um carro parou bem na minha frente. Não tive outra reação a não ser parar de correr. Então, o homem guarda-roupa que vi conversando com Tom saiu do carro e pegou. Me forçou a entrar no carro.

Agora sim: Eu estava ferrada!

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