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Oiie!

Não devemos por rótulos nas pessoas. Cada um é mais do que aparenta e menos do que dizem. O preconceito é o grande mal da humanidade.

domingo, 4 de julho de 2010

Fugindo de casa 6




Fiquei parada sem saber se atendia ou não, abafando o barulho do celular tocando com a mão para que Tom não acordasse.
Será que ela tinha voltado de viagem e percebeu a minha ausência? Só podia ser isso.
Mas o que eu falaria para ela?
Eu sentia saudades, mas não tinha coragem para atender e sentia vergonha por não ter coragem.
Não atendi.
Ela deixou uma mensagem na caixa de mensagens.

"Raquel, filha, por que você não atendeu as ligações que fiz para o fixo? Bem, Eu vou precisar ficar um pouco mais. Estou com uma proposta ótima de trabalho aqui em Irecê e há uma boa probabilidade de nos mudarmos pra cá. Eu não queria falar isso assim, mas você não me atende..."

Foi tudo o que ela conseguiu falar antes que o telefone parasse.
Eu não havia reparado mas Tom havia acordado e sentado em seu colchão, estava me olhando.
Fechei o celular e fiquei olhando para ele também.

- Era sua mãe?

- Era sim. - Falei olhando para baixo, sentada na cama.

- Ela me pareceu preocupada. - Eu não respondi, e ele percebeu que eu não daria continuidade a conversa, então continuou - Você não vai retornar?

- Está tarde. - Respondi com a primeira resposta que me veio à mente.

- Hum.

Um silêncio tomou o cômodo 3 em 1. Aquela casinha era feita especialmente para uma pessoa com um péssimo relacionamento social e sem família. Milhares de pensamentos começaram a inundar minha mente habitualmente confusa.

- Posso te perguntar uma coisa?

- O que?

- Onde é que nós estamos?

- Como assim?

- Que cidade é essa?

- Você tá me dizendo que não sabe onde está?

- Acho que sim.

Ele caiu em uma gargalhada profunda e gostosa. Dessas que fazem a gente querer rir também. Mas eu não tava achando graça.

- Quer dizer que você pega um ônibus e não sabe nem pra que lugar que você tá indo?

- Basicamente...

- Itamaraju. - Falou ele já contendo o riso.

- Onde?

- Sul da Bahia. Perto da divisa com o Espírito Santo.

- Ah! Muito obrigada - Ironizei.

- Sério, garota! Você é louca!

- Talvez... Acho bom tomar cuidado comigo!

Ele caiu novamente em uma gargalhada gostosa de se ouvir.

- Tá certo! Pode deixar! - Conteve o riso e continuou - À propósito, como anda seu pé mesmo?

- Está bem melhor, obrigada!

- Acho bom você dormir um pouco.

Falou e virou-se, deitando-se novamente. Fiz o mesmo. Não demorou muito e ele já estava roncando. Assim como sua risada, era um ronco gostoso, baixinho, assemelhava-se com uma respiração.
Ele escapou para outro mundo, me deixando aqui, perdida e sozinha na noite como sempre.
Com minhas dúvidas e meus medos.
Eu percebi duas coisas naquela noite.
A primeira: Eu não tinha certeza de nada.
A segunda: O que eu iria fazer? Eu não sabia. Nem sequer, por onde começar.

A escuridão da noite foi abrandando e o sol trouxe com ele o meu método de fuga, pois nos meus sonhos eu estaria segura. E o sono seguiu tranquilo. E eu mergulhei naquele mar infinito sem começo nem fim, o nada que se encontrava minha vida. O nada que se encontrava dentro de mim. O nada que eu era e sempre fora.

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