Capítulo 2
Jeremy
Minha cabeça doía. Eu não me lembrava o que tinha acontecido. Me sentei na cama. Abri os olhos com alguma dificuldade. Eu não sabia onde estava. Sentia uma sensação estranha. Como se eu não fosse mais eu mesmo. Como se tudo que antes dava um pouco de razão à minha vida hoje já não existisse mais. Meu corpo estava estranho. E o mais bizarro é que eu me sentia bem. Levantei e olhei ao meu redor. Realmente, eu não sabia onde estava. Era o quarto de alguém. Isso dava para perceber. Tinha um ar meio sombrio. Na direita havia uma cama de casal com ares do século XIX, forrada com uma colcha vermelha um tanto exótica. Ao lado da porta havia uma grande estante com muitos livros, não pareciam seguir uma ordem ou algo assim, estavam todos bagunçados. No meio do aposento havia uma mesa redonda com outros tantos livros espalhados e uma foto em cima de um deles. Elena? Não. Não era Elena, mas a semelhança era incrível. Na parte de baixo tinha um nome e uma data. Katharine 1864. Olhei para a porta e lá estava Damon.
- Trouxe um presentinho para você.
- O que é isso?
- Ovo de páscoa! O que mais poderia ser?
- Sinceramente, vindo de você, eu não sei.
- Bem, você que sabe. Ou bebe isso e completa sua transformação ou espera a morte. E dessa vez ela não vai te dar uma segunda chance.
Ele saiu do quarto e deixou um copo de vidro com sangue. Fiquei encarando aquele objeto durante algum tempo. Eu estava confuso. Eu queria muito isso, mas ao mesmo tempo, eu não sabia se deveria. Eu tinha visto no diário de Elena que Stefan não bebia sangue humano. Será que eu também poderia ser assim? Mas, eu só poderia me transformar se bebesse sangue humano. Pelo menos era disso que eu sabia. Bebi o conteúdo que estava no copo, me acostumando com o gosto. Antes eu, com certeza, acharia repugnante e horrível. Mas agora, quando tudo no meu corpo era diferente e eu não tinha mais certeza de quem eu era. Aquele sangue quente descendo pela minha língua e depois pela minha garganta, aquecia todo meu corpo, eu queria mais, eu precisava de mais daquilo. Mas como eu conseguiria mais sem machucar alguém de quem eu gostava? Eu sentia algo diferente em meu peito. Eu poderia afastar tudo que me causava dor. Eu poderia escolher afastar da minha mente todas as imagens que me atormentavam. Era impressionante como um pouco de água, glóbulos brancos e vermelhos e mil e uma coisinhas mais, poderiam causar essa síndrome de sensações.
Mas havia também a outra parte. Eu sentia uma dor esmagadora em meu peito pela perda de meus pais e de Vicky, como agulhas que perfuravam cada milímetro do meu sistema nervoso. E Anna, eu realmente gostava dela. E ela tinha partido e eu queria vê-la, tocá-la, sentir seu corpo junto ao meu. Queria beijar sua boca e compartilhar com ela o resto da minha eternidade. Mas eu sabia que isso não iria acontecer agora que ela tinha me deixado. E eu não sabia se minha existência teria um propósito nobre ou, no mínimo, razoável, na verdade eu não sabia se minha... morte teria algum propósito.
Caminhei até a janela, que estava coberta por uma cortina, afastei a cortina e o sol de quatro da tarde me atingiu em cheio. A minha pele queimava como se eu tivesse pegado brasa quente com a mão. Caí sobre o assoalho mas o sol ainda queimava sobre minha pele. Ouvi alguém se aproximar. Ouvia as batidas do seu coração. Era Elena, reconheci seu cheiro. Ela parou na porta e ouvi o barulho de alguma coisa caindo no chão. Ela veio correndo em minha direção e fechou as cortinas. Foi como se eu tivesse mergulhado em uma piscina de água gelada em um dia quente de verão. Uma onda frescor percorreu todo o meu corpo e senti minha pele vampiresca voltando ao normal.
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