Fugindo de casa 3

De alguma forma, algo me trouxe até aqui, e hoje eu já não tenho tanta certeza assim do que foi.
Acho que me perdi no meio do caminho.
Se foi algo que eu fiz, que eu falei eu não sei.
Será que devo seguir em frente?
O medo me diz para voltar atrás, estarei sendo covarde?
Minhas ideias estão conflitando entre si e meu instinto pifou.
Eu já vim até aqui.
Parar agora não seria o correto.
Tenho dois caminhos para escolher.
Ficar ou prosseguir?
Tudo poderia ser tão mais fácil.
Mas de repente nos vemos perdidos em meio a várias perguntas aparentemente sem resposta.
E o medo vai tomando conta, se apoderando do seu corpo como um leve calafrio que vai subindo devagar e você vai sucumbindo, se deixando levar... e quando percebe. Já é tarde demais.
Tarde para você prosseguir e tarde para voltar atrás.
Tarde para consertar as coisas.
E você se agarra numa esperança vazia de que tudo dará certo no final.
Mas ninguém nunca se perguntou se haverá um final feliz. E se o felizes para sempre não passar de uma grande brincadeira de mau gosto?
E se você for a protagonista de um filme de terror?
Sairia com vida?
Você estaria disposta a tudo por uma mísera e insignificante existência?
Ela valeria tanto a pena?
E mesmo que sobrevivesse, o que você faria depois?
Teria alguma causa pela qual lutar?
Teria um bom motivo para continuar respirando e pelo qual valesse a pena acordar toda manhã?
Se sua vida fizesse tanto sentido quanto palavras soltas em uma folha de papel eu não sei se valeria tanto à pena assim.
E eu já não sabia se a minha vida valia tanto à pena assim.
Eu estava tão absorta e perdida em meus pensamentos que não ouvi alguém se aproximar.
Quando dei por mim era tarde demais para me esconder.
O que eu iria fazer?
Ficar ou correr?
Eu acho que todo mundo já se fez essa pergunta uma vez na vida.
Eu não pude ponderar muito. Corri.
Corri o mais rápido que pude para dentro da floresta.
Eu não sabia o que o homem que tinha me visto queria.
Será que foi ele que tinha me sequestrado?
Eu nã pretendi ficar para saber.
Com a minha velocidade, não tão rápida quanto eu gostaria, por causa do chão acidentado e com todos os obstáculos à minha frente, eu não pude evitar alguns arranhões.
Havia árvores em qualquer direção que eu olhasse e isso estava começando a me irritar. Eu não sabia para onde estava indo. Mas ao mesmo tempo, seria mais difícil para que alguém pudesse me encontrar. Mas e se eu estivesse andando em círculos? E se eu fosse dar de cara com a pequena cabana novamente? Eu estaria de cara com a morte, literalmente? Eu, sinceramente, não queria as respostas para estas perguntas.
Eu não podia fraquejar agora, não podia deixar o medo tomar conta de mim.
Estava nublado e o sol iluminava pouco o caminho, mas eu não tropecei em nada. O que até agora era uma surpresa para mim. Eu não sabia se o homem estava atrás de mim. Eu não tinha coragem de me virar para olhar.
E de repente, eu comecei a ver uma saída.
Eu estaria livre em pouco tempo.
A floresta findava e eu poderia ver uma fresta de luz. Eu a segui como se a minha vida dependesse disso, e realmente dependia. Uma alegria eufórica começou a tomar conta do meu corpo, estava tão perto, só mais alguns passos e...
Eu não vi o tronco que estava no chão e tropecei.
Caí e saí deslizando na grama que estava à minha frente.
E de repente o meu pior pesadelo virou realidade.
Tudo tinha sido em vão.
Eu corri metros e vim parar do lado oposto à cabana.
Logo após a minha queda, ouvi passos, vindo em minha direção.
Eu tentei levantar e sair correndo novamente mas meu corpo não respondia.
Eu levantei e não conseguir andar.
Meu pé esquerdo doía que parecia que tinham enfiado uma faca nele.
O homem caminhou em minha direção e só agora pude reparar nele.
Ele era alto, forte, tinha a pele queimada de sol e suas roupas estavam um tanto mal tratadas. A cada passo que ele dava em minha direção, seus olhos azuis ficavam mais reluzentes. Eles tinham um brilho aterrorizante.
Ele estava a dois metros de mim quando pude ouvir sua voz. Ele falou: Eu sabia que você ia voltar.